2 de ago. de 2009

Eu amo tudo que já foi

Eu amo tudo que já foi
Tudo que já não é
A dor que já não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia

18 de jul. de 2009

Cuántas veces

Cuántas veces, amor, te amé sin verte y tal vez sin recuerdo,
sin reconocer tu mirada, sin mirarte, centaura,
en regiones contrarias, en un mediodía quemante:
eras sólo el aroma de los cereales que amo.

Tal vez te vi, te supuse al pasar levantando
una copa en Angola, a la luz de la luna de Junio,
o eras tú la cintura de aquella guitarra que toqué
en las tinieblas y sonó como el mar desmedido.

Te amé sin que yo lo supiera, y busqué tu memoria.
En las casas vacías entré con linterna
a robar tu retrato.

Pero yo ya sabía cómo era.
De pronto mientras ibas conmigo
te toqué y se detuvo mi vida:
frente a mis ojos estabas, reinándome, y reinas.
Como hoguera en los bosques el fuego es tu reino.

21 de mai. de 2009

Enquanto a chuva cai

A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.

Torvelinhai, torrentes do ar!

Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.

Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.

Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .

Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!

A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!

Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!

E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.

É que na tua voz selvagem,
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!

5 de abr. de 2009

Especulações em torno da palavra homem

Mas que coisa é homem
Que há sob o nome:
Uma geografia?

Um ser metafísico
Uma fábula sem
Signo que desmonte?

(...)

Quanto vale o homem?
Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos, velho?

Vale menos, morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem

é medida de homem?
Como morre o homem?
Como começa?

Sua morte é fome
Que a si mesma come?
Morre a cada passo?

Quando dorme, morre?
Quando morre, morre?

(...)

Por que morre o homem?
campeia outra forma
De existir sem vida?

(...)

Por que mente o homem?
Mente mente mente
Despesperadamente?

(...)

Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?

Última canção do beco

Vão demolir esta casa,
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!

8 de mar. de 2009

Vazio

A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente as casas,
Os bondes, os automóveis, as pessoas,
Os fios telegráficos estendidos,
No céu os anúncios luminosos.

A poesia fugiu do mundo.
O amor fugiu do mundo —
Restam somente os homens,
Pequeninos, apressados, egoístas e inúteis.
Resta a vida que é preciso viver.
Resta a volúpia que é preciso matar.
Resta a necessidade de poesia, que é preciso contentar.

Ontem

Ontem
quando eu andava perdido no mundo
sem saber de onde vim,
para quê, nem por quê,
onde andava você?

Hoje,
que mal consigo encontrar meu caminho
sem saber aonde ir,
para quê, nem por quê,
onde anda você?

E amanhã,
se eu souber finalmente quem sou,
de onde vim, aonde vou
mas meu tempo estiver
fatalmente encerrado,
onde andará você?